Tesouro Nacional realiza amanhã, quinta-feira, o último leilão de venda de título prefixado com pagamento de juro na data do resgate – a LTN. Na terça que vem, oferece aos investidores o papel que paga juro além da inflação, a NTN-B. No cronograma de venda de títulos federais para negociação doméstica, não há previsão de oferta adicional da veterana LFT , indexada à taxa Selic. O Tesouro faz oferta convencional desse papel uma vez por mês e, em julho, já colocou o lote na rua. Mas em junho chegou a fazer uma venda surpresa que alegrou os bancos. Aqueles que conseguiram vencer a disputa e compraram LFT no leilão tentaram abastecer tesourarias ou fundos de investimento. Além da necessidade de lastro para as aplicações, a LFT era focada (e ainda é) para minimizar perdas decorrentes de volatilidade exagerada das taxas de juros. Em três lances, entre junho e julho, o Tesouro repassou ao mercado quase R$ 34 bilhões de LFT. Essa colocação mais as recompras de títulos pelo Tesouro entre maio e junho para realinhamento de taxas – em alta global ante a perspectiva de o Federal Reserve reduzir ou interromper o programa de compra de ativos – deram oxigênio ao mercado de renda fixa.
A eliminação pelo Ministério da Fazenda da cobrança de IOF em aplicações de estrangeiros e derivativos cambiais restabeleceu aos poucos o humor dos investidores. E os estrangeiros que precisavam de incentivo para buscar outras praias acabaram levando um de Ben Bernanke, presidente do Fed, que há poucos dias indicou que a recompra de ativos acabará quando alcançadas algumas condições econômicas, sobretudo no mercado de trabalho. Em junho e nas primeiras semanas deste mês, o Brasil acolheu investidores estrangeiros muito interessados em juros. O Brasil é bom, paga bem, mas sofre as consequências da verdadeira fuzarca que reina no universo da Política e atiça protestos por demandas sociais.
Se prolongado, o reposicionamento de grandes investidores — possivelmente cansados do vaivém do BC americano que desde maio sacode os mercados globais – será determinante para a gestão da dívida pública, da liquidez no mercado monetário e até para o financiamento de investimentos à atividade. Ajustes relevantes vêm ocorrendo e, bem ou mal, confirmam que as engrenagens do mercado financeiro estão funcionando como se os tempos fossem de intensa crise. Mas estão funcionando, o que já é uma garantia para o investidor estrangeiro.
Julho nem acabou e mais de R$ 50 bilhões aplicados por bancos no curtíssimo prazo em títulos federais da carteira do BC do B deixaram essa posição. E não dá para descartar a possibilidade da retomada do alongamento de prazo das operações compromissadas do BC, ante a expectativa crescente de que o ciclo de alta da taxa Selic tem data para expirar. E a data se aproxima. Analistas e tesoureiros consideram certo mais um aumento da Selic em 0,50 ponto, para 9%, pelo Copom no fim de agosto. Por ora, está de pé a possibilidade de mais um ajuste, de 0,25 ponto, na reunião seguinte do colegiado do BC, na primeira semana de outubro.
Apostas de que a taxa básica poderia voltar aos dois dígitos saíram de cena. Com investidores mais serenos, o Tesouro já vendeu em mercado neste mês R$ 28 bilhões em títulos. Em junho, a colocação bruta chegou a R$ 33,5 bilhões. Se o Tesouro estiver disposto a fazer nova oferta surpresa de LFT semelhante à anterior, a venda total de papéis em julho pode se aproximar de R$ 40 bilhões.
Em tempo: o Tesouro está fazendo a rolagem da dívida pública sem dificuldade. Mudou, sim, o patamar das taxas garantidas aos compradores nos leilões primários.
Fonte : Valor econômico