FONTE: Angelo Pavini – Arena do Pavini
Os investidores com recursos para aplicar nesta semana devem manter a calma e evitar opções de maior prazo e maior risco, recomendam gestores e especialistas de mercado. Os cenários no caso de vitória de um candidato ou outro para a Presidência da República são muito diferentes, e a escolha errada pode provocar uma grande perda, apesar da tentação de obter um grande ganho.
A XP Investimentos, por exemplo, fez uma pesquisa com os clientes sobre qual o impacto da eleição no Índice Bovespa. Pelas projeções dos investidores, no caso de vitória de Dilma Rousseff, do PT, o Ibovespa poderia ir a 44.600 pontos. Já no caso de Aécio Neves, do PSDB, vencer, o índice iria a 66.200 pontos. O nível atual, 51.276 pontos, refletiria o favoritismo de Dilma nas pesquisas.
Mas, apesar do favoritismo, as pesquisas não permitem ainda antecipar quem será o vencedor da eleição de domingo. “O mercado está muito como um jogo de roleta, preto ou vermelho, e isso não é bom para o investidor”, diz um gestor de recursos que pediu para não ter seu nome citado.
A defesa mais agressiva da presidente de sua atual política econômica e os ataques a uma política considerada mais liberal, de combate efetivo à inflação e ajuste das contas públicas, preocupam o mercado, que espera que a bolsa caia e o dólar e os juros subam no caso de reeleição.
A falta de definição de quem seria o responsável pela condução da política econômica no segundo mandato de Dilma, que daria um sinal de sua linha de atuação, também preocupa os investidores. Já com Aécio, que defende esses ajustes e anunciou inclusive Armínio Fraga como seu possível ministro da Fazenda, a situação é a inversa e sua vitória pode levar o dólar e os juros a cair.
Fundos DI e LCI e LCA
Na incerteza, o melhor portanto é investir em renda fixa de curto prazo, avalia Norberto Giangrande, diretor-geral da Rico Investimentos. Quem precisar do dinheiro para o dia a dia pode optar por um fundo DI com taxa de administração mais baixa, que permita sacar o dinheiro a qualquer momento.
Se o dinheiro tiver prazo mais longo, pode ir para uma Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) ou para uma Letra de Crédito Imobiliário (LCI) com prazo a partir de 60 dias e corrigida pelo juro diário do CDI com isenção de imposto de renda. Um papel desse tipo paga em torno de 96% do CDI líquidos, o que equivaleria a 118% brutos em uma aplicação em CDB, por exemplo.
Os CDBs também são uma opção, desde que emitidos por bancos de primeira linha ou com valor até R$ 250 mil, com garantia do Fundo Garantidor de Crédito, mas como eles pagam imposto de renda, o rendimento tem de ser maior que o das LCA e LCI, que são isentas.
“Nessa hora, com a volatilidade forte que está no mercado, quanto mais conservador o investidor ficar, melhor”, diz Giangrande, lembrando que a reação do mercado à eleição será muito binária, muito ruim ou muito boa. “Parece que serão países diferentes”, ironiza.
Sem alongar
Ele acredita que não é hora de arriscar alongar a aplicação dos recursos em papéis como Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), papéis corrigidos pela inflação que podem chegar a 2050. “Esses papéis longos serão tão afetados quanto a bolsa de acordo com o resultado da eleição e, se o juro subir muito, podem dar um prejuízo parecido com os das ações no curto prazo”, alerta.
Isso se deve ao fato de a NTN-B ter uma parcela fixa de juros paga além da inflação. Se esse juro real subir, os papéis antigos, com juros menores, perder valor para se ajustar, e o investidor que tiver de vender o papel no curto prazo terá perdas.
Dólar sem definição
O mesmo risco existe no dólar, alerta Giangrande. “O dólar também, pode subir mais ou pode cair forte, portanto, não é hora de especular”, diz.
A estratégia de ficar com os recursos no curto prazo também é boa levando-se em conta que podem surgir oportunidades interessantes depois das eleições. A maioria dos investidores também está mais conservadora, observa Giangrande, evitando assumir muitos riscos.
Um gestor de fundos lembra que, no caso do dólar, um eventual rebaixamento da nota de crédito do Brasil para um nível abaixo do grau de investimento de baixo risco teria um impacto muito forte no mercado. “Temos cerca de US$ 300 bilhões em investimentos que dependem desse grau de investimento e que terão de sair de qualquer jeito se o Brasil for rebaixado”, alerta. E esse rebaixamento dependerá fundamentalmente de o Brasil fazer ou pelo menos indicar que fará os ajustes fiscal e de política externa esperados pelas agências de rating e pelo mercado.
País não vai quebrar
É um erro pensar, porém, que a reeleição da presidente Dilma significará a quebra do país e que as empresas brasileiras não valerão nada, diz Raphael Juan, gestor da BBT Asset. “Num primeiro momento haverá desvalorização de empresas, mas o fundamento sempre volta ao racional uma vez que estas empresas estarão muito baratas em comparação com seus pares internacionais e o valor do dólar estará mais apreciado, ou seja, para o investidor internacional as empresas serão uma pechincha”, diz.
Ele lembra que a liquidez internacional também dá sinais de continuidade, principalmente com as atuais notícias de que o Banco Central Europeu (BCE) começará a comprar dívidas de empresas, diz.
Um 2015 difícil para qualquer um
Juan espera que 2015 seja um ano de ajustes, cujos resultados só aparecerão a partir de 2016. O gestor espera que, no curto prazo, o cenário melhore com uma vitória de Aécio, até dezembro pelo menos. Mas um forte corte de gastos públicos poderia ser mais prejudicial para a economia do que a própria eleição de Dilma, afirma Juan. “Resumindo, é fato que Aécio é a melhor opção para a economia, mas é uma incógnita a melhor opção de governo para o ano específico de 2015, em razão da velocidade do corte dos gastos públicos que auxiliam o movimento da economia”, diz.
Seguno Juan, a BBT Asset trabalha com 50% de chance de vitória de Dilma, o que implica numa estratégia de curto prazo mais defensiva, com uso de instrumentos derivativos nos fundos de ações para proteger as aplicações de longo prazo. Nesse caso, a gestora consegue manter os ativos e evita perdas em caso de uma queda mais acentuada da bolsa. Se o mercado vier abaixo mesmo, explica o gestor, as proteções serão desfeitas e as aplicações poderão ser revistas.
Ele também fez estimativas de crescimento da economia no caso de eleição de cada candidato. No caso de vitória de Aécio, o país cresceria 0,9% no ano que vem e 3% em 2016. Já com Dilma, o crescimento seria de 1% em 2015 e 2% em 2016. Neste ano, a previsão seria um crescimento de 0,4%, segundo a gestora.