Um dia após rebaixar a avaliação do Brasil, a agência de classificação de riscos Moody´s revisou as notas de crédito de 12 instituições financeiras, além da BM&FBovespa, duas seguradoras e uma resseguradora.
A mudança nas avaliações decorre do rebaixamento da capacidade de crédito do próprio país. Isso porque, na maioria das vezes, a nota de avaliação do país costuma ser o teto da avaliação das empresas, sendo que aquelas com solidez e performance considerada acima da República do Brasil podem ter uma avaliação superior.
O rebaixamento do Brasil implicou na redução das avaliações de risco da BM&FBovespa e dos seguintes bancos:
- Itaú Unibanco
- Bradesco
- Banco do Brasil
- BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)
- Caixa Econômica Federal
- Banco Santander Brasil
- Banco Safra
- HSBC Bank Brasil
- Banco Citibank
- ING Bank
- Banco Alfa de Investimento
- Banco Mizuho do Brasil
A perspectiva das avaliações, que era negativa, passou a ser estável. Isso sugere que não estão em revisão neste momento, como ocorre com o país.
A agência reduziu ainda as avaliações das seguradoras ACE e Chubb do Brasil, além da resseguradora Munich Re do Brasil.
NOTA DE CRÉDITO
Nesta terça-feira (11), a Moody’s cortou a nota de crédito do Brasil para Baa3, colocando o país no último nível do chamado grau de investimento —atestado de que é um bom pagador de suas dívidas.
Com isso, o Brasil ficou em posição frágil em duas agências de risco. Na Standard & Poor’s, o país também está na última classificação antes do grau especulativo.
A agência afirmou que o fraco desempenho econômico e a situação fiscal justificam o rebaixamento. E mostrou preocupação com o ambiente político. Para a Moody’s, a falta de consenso impedirá as autoridades brasileiras de conter o aumento da dívida pública, que só se estabilizará no final do mandato de Dilma Rousseff.
Nos cálculos da agência, a dívida bruta subirá para o equivalente a 67% do PIB em 2016 e ficará próxima de 70% do PIB em 2018, permanecendo em “nível elevado” depois.
A estimativa se difere da feita pelo governo. Quando anunciou que reduziria a meta de superavit primário deste ano –economia para o pagamento dos juros da dívida pública–, a equipe econômica afirmou que a dívida deveria chegar a 66,4% do PIB em 2016, baixando em 2017.
Manter o selo de bom pagador é importante para o Brasil porque grandes fundos internacionais possuem regras impedindo-os de investir em títulos de países com grau especulativo. A maior parte tem como regra que ao menos duas agências classifiquem o país como grau de investimento.
ALÍVIO
O mercado reagiu com alívio à notícia do corte da nota brasileira. Havia o temor de que a Moody’s retirasse já agora o grau de investimento. Para economistas ouvidos pela Folha, a mudança coloca pressão sobre o Congresso, que vem dificultando a aprovação do ajuste.
O ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni, afirma que, caso a meta fiscal seja cumprida, o Brasil pode “passar raspando” e preservar o grau de investimento.
Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, as agências de risco perderam a credibilidade durante a crise, mas têm peso nas decisões dos investidores e, por isso, o governo deve agir para melhorar as expectativas.
“Se o presidente da Câmara insistir no sequestro da instituição para sua defesa pessoal teremos problemas sérios em breve”, diz André Perfeito, ecomomista-chefe da Gradual Investimentos.
Analistas alertam, contudo, que o país não tem muito tempo para “arrumar a casa” e o alívio pode ser apenas temporário.
Gabriela Santos, analista do JPMorgan Asset Management em Nova York, diz que preocupa a possibilidade de corte na nota pela Standard & Poor’s, que mudou em julho a perspectiva do Brasil para negativa. A decisão deve sair no começo de 2016.
A Fitch, que classifica o Brasil a dois níveis do grau especulativo, já sinalizou que irá revisar a nota em breve.
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO