Desde a abertura do capital, a OGX mantinha quase 100% de suas reservas financeiras guardadas em um fundo de investimento, o OGX63. Analisando a evolução do patrimônio deste fundo, percebemos que ele conta a história da companhia. Os diversos momentos da vida do fundo representam fielmente as fases vividas pela empresa, desde o IPO até a derrocada.
Fase 1: início do fundo e aporte do IPO
O OGX 63 Multimercado Credito Privado – Fundos de Investimentos em Cotas de Fundos de Investimentos foi criado em dezembro/2007 com dinheiro da própria companhia, proveniente do seu capital social e financiamentos privados e públicos. Ainda não existiam os recursos dos acionistas minoritários que investiram na companhia por meio da bolsa de valores.
Com a abertura de capital, as ações da OGX começaram a ser negociadas na bolsa de valores no dia 13/06/2008. Seguindo o que estava no prospecto, os recursos provenientes da venda dessas ações ingressaram no caixa da companhia no dia 17/06/2008. Entre os dias 17/06 e 02/07/2008, o fundo OGX63 recebeu aportes num valor total de pouco mais de R$ 6,44 bilhões.
Quase todo o dinheiro levantado com o IPO foi destinado ao OGX63
Do valor total, R$ 5,64 bilhões correspondem ao valor da oferta inicial e R$ 803 milhões correspondem à oferta complementar que o Banco Credit Suisse tinha direito de adquirir por ser o Coordenador Líder da oferta. Por isso podemos afirmar que quase todo o dinheiro levantado com o IPO foi destinado ao OGX63.
O ingresso dos recursos no OGX63 marca o fim do período 1 no gráfico abaixo, com o rápido salto no patrimônio do fundo.
Fase 2: crise de 2008 e consumo moderado dos recursos
No início da fase 2 no gráfico acima, a empresa chegou a ter mais de R$ 7,5 bilhões no fundo OGX63. Nesse momento, o projeto de operação da companhia ainda enfrentava etapas burocráticas. O consumo de caixa era irrelevante, e o patrimônio do fundo conseguia crescer, graças à rentabilidade.
A crise de 2008 atingiu o seu ápice poucos meses depois da abertura de capital. Apesar de não haver relatos de problemas operacionais na companhia, o preço da ação da OGX negociada na bolsa de valores despencou, perdendo cerca de 80% do valor.
Em 2009, o consumo de caixa da empresa começa a acelerar, porém ainda dentro do esperado pelo mercado. Ao longo de 2009 e 2010, o valor da ação se recupera, junto com a recuperação do mercado em geral. A OGX continua consumindo suas disponibilidades financeiras, mas o ritmo é considerado aceitável.
Depois terem amargurado um preço de R$ 2,50 por ação, os investidores da OGX assistem a recuperação da cotação, e o papel atinge um pico recorde de R$ 23,39. Nesse momento, a OGX ainda possuía cerca de R$ 4,8 bilhões no fundo OGX63.
Fase 3: queima de caixa e adiamento da produção
No começo de 2011, a companhia acelera os gastos e o consumo dos recursos em caixa. Os investidores começam a se questionar se a OGX vai ter fôlego financeiro para se manter em funcionamento até que a extração de petróleo comece a gerar faturamento. As receitas provenientes da venda de petróleo precisariam superar as despesas e permitir o crescimento do caixa, para que finalmente a empresa se tornasse operacional e financeiramente viável.
Em 2011, o consumo de caixa da empresa começa a acelerar e gera dúvidas sobre a sua viabilidade
Diversos atrasos para o início da produção fizeram com que o valor da ação caísse para R$ 9,09 e o caixa da empresa atingisse um perigoso patamar de menos de R$ 2 bilhões.
Fase 4: produção de petróleo
A produção da OGX começou em fevereiro de 2012, porém o mercado vinha antecipando esse acontecimento há cerca de três meses. As ações dobraram de preço em pouco mais de um semestre, chegando a R$ 18,41 por ação.
A companhia assinou também contratos de venda com a Shell. Supomos que esses contratos devem ter previsto alguns pagamentos antecipados, pois o patrimônio do fundo mostrou alguns sinais de recuperação antes mesmo do início da produção de petróleo. Em maio de 2012, o OGX63 tinha saído do patamar de R$ 1,4 bilhões e alcançado R$ 2,3 bilhões em patrimônio.
Fase 5: problemas operacionais e derrocada
A esperança de recuperação durou pouco. Nos meses seguintes a companhia enfrentou novos problemas técnicos e operacionais. A produção não crescia no ritmo esperado e prometido. Pelo contrário, a empresa estava extraindo menos petróleo do que extraiu nos primeiros meses de operação.
A companhia se viu em uma situação sem saída. Não havia caixa para continuar a produzir; sem produção não conseguia gerar caixa; com dificuldades operacionais e já cheia de dívidas, não conseguia levantar empréstimos. A situação só piora e seu principal porta-voz, Eike Batista, perde credibilidade, o que afasta ainda mais qualquer possibilidade de capitalização.
Restam menos de R$ 200 milhões no fundo OGX63 e pouquíssima perspectiva de melhoras operacionais. Na última fase, preço por ação passa a apresentar uma grande correlação com a quantidade de dinheiro em caixa – o mercado passa a considerar que as perspectivas de geração de valor são pequenas.
FONTE: COMPARAÇÃO DE FUNDOS